Observo ao longo dos meus anos de carreira o quão tóxico costumam ser os ambientes corporativos, pautados pela competição desmedida, desconfiança, retaliação e pouca produtividade efetiva. Entendo isso como um reflexo dos valores da nossa sociedade, que desde sempre nos treina para sermos melhores do que os outros, que nos pune quando não somos e que poucas ferramentas nos dá para lidar com a desordem interna que esse mecanismo provoca.

São poucos os gestores que conheço que já conseguem liderar pela confiança. A grande maioria ainda está preso no que chamo de liderança por comando e controle, ou seja, um gerenciamento autoritário que tem por base o medo: o que sente e o que gera.

Acredito em uma liderança que tenha como premissa a confiança mútua. A questão é que ela requer suor e trabalho interno, já que para ser verdadeira precisa ter respaldo interno. Só pode liderar com confiança quem é muito íntimo de si, quem enfrenta com coragem suas próprias sombras e fantasmas, quem aprende a confiar não só em seus talentos e conhecimentos adquiridos, mas também em sua intuição.

Geralmente, gestores estipulam métricas para garantir que seu time faça o que ele espera que façam, para que entreguem do jeito que ele quer, porque acredita que só dessa forma ele atingirá suas metas. Porém, raramente o resultado será o que espera. Primeiro porque a vida sempre nos foge do controle nos provando por A mais B que a perfeição é a maior das ilusões; segundo porque o resultado é sempre fruto do trabalho realizado por diversas pessoas que, inevitavelmente, tomam decisões e seguem caminhos a partir do seu próprio repertório.

Não seria mais fácil então procurar um caminho em grupo? Compartilhar com o time que tipo de mensuração aplicar, entender em conjunto como a equipe se sente bem para fazer entregas e alcançar as metas propostas? Lembrando que quem decide saltar é ela, a equipe, e que cabe ao gestor proporcionar-lhe as melhores ferramentas e treinamento para que voem mais longe. Cabe ao gestor olhar o todo e incentivar o time a dar seu melhor, se superar.

Cavalo com medo não performa e ainda, te derruba. Por que seria diferente com funcionários que não confiam em seu líder e trabalham angustiados, sob pressão e ameaças, mesmo que veladas, de punição? O papel do líder é buscar novos caminhos quando percebe que os percorridos não tiveram bom resultado e ajudar seus colaboradores a se empoderarem para que possam seguir confiantes.

Presos em controle acabamos nos isolando, ficando a parte, afastando para longe aqueles que poderiam somar forças. E sozinhos é sempre muito mais difícil dar qualquer salto.

Flávia de Oliveira Ramos
Amazona de si