Sempre insisto em dizer que uma boa liderança é reflexo de boas relações. Não necessariamente do networking ou de bons contatos, mas de relacionamentos sinceros e respeitosos consigo mesmo, com seu chefe e com sua equipe, com aqueles que estão ao seu lado no dia a dia, entregando seus talentos para que se cumpram as metas individuais e coletivas.

Aprender a se relacionar é não só a chave para prosperar no campo profissional como também no pessoal. E quando falo em se relacionar, me refiro ao exercício constante de criar conexão real com o outro, de desenvolver habilidades como a empatia e a escuta, de aprender a enxergar as coisas por outro ângulo que não só o seu. Falo em observar suas habilidades e limitações, assim como as do outro, e tratá-las com o respeito devido.

Em outras palavras, entendo a liderança como uma contínua prova em que se joga junto, onde a hierarquia é sinônimo de tempo de estrada, de sabedoria, um tipo de virtude que apenas une e cria confiança, nunca afasta – um constante exercício de relacionamento humano.

Por isso mesmo, acho curioso notar que muitas corporações formam seus times a partir de relacionamentos pautados no medo, na intriga e na obediência. As pessoas não revelam opiniões e fazem somente o “que tem que fazer”. Uns se protegem dos outros para não perderem seu lugar. Nos sobram chefes, mas faltam líderes de verdade. E se você se encontra em meio a esse cenário, sugiro que repense suas escolhas porque precisamos, de verdade, criar novas realidades e transformar esses velhos modelos tão ineficientes.

Na minha grande escola de vida que foi e ainda é o hipismo, as coisas só podem funcionar direito se os relacionamentos foram saudáveis. Eu só direciono um cavalo se puder me colocar no lugar dele, se puder dar espaço para ele se expressar e me mostrar o que precisa, até onde pode ir, o que gosta ou não. Da mesma forma, tenho um mestre no chão que nos observa de fora, que transmite seus conhecimentos e contribui para nosso alinhamento e boa performance. Ele, às vezes, pede para montar o cavalo para poder senti-lo melhor e me deixa no chão enxergando meu parceiro de outra perspectiva.

É essa constante troca de papéis que faz da relação um espaço tão rico, que permite que um sinta na pele o universo do outro, que criemos uma escuta profunda e encontremos juntos os melhores caminhos. Da mesma forma, no mundo coorporativo, é só quando um diretor desce para o “chão de fábrica” e cria pontes com toda a equipe que ele compreende que direção tomar. Ele não passa por cima de seus gerentes, ele apenas se dá a oportunidade de ver as coisas de outro lugar. Da mesma forma, ele não estimula o jogo de intrigas, ele apenas abre o espaço para ouvir a equipe – e ele estimula que a equipe se expresse de verdade.

O bom líder está sempre cultivando laços, azeitando suas relações e cuidando para que a confiança entre seus pares não se quebre, porque sem ela não há mais time. Ele está disponível para ouvir o outro e deixá-lo brilhar em seu melhor e cobri-lo em suas fragilidades. Ele se coloca no lugar do outro e também se revela, deixando que sua realidade seja acessível para a equipe. Ele sabe jogar junto. Ele sabe formar equipes campeãs.

Flávia de Oliveira Ramos

Amazona de si