Os meses de férias escolares costumam gerar sentimentos intensos na maioria dos pais. Uma certa ansiedade já que as crianças saem de suas rotinas e o tempo livre precisa ser preenchido de alguma forma. Uma certa inquietação porque nossa zona de conforto, tão bem moldada por essa rotina, acaba sofrendo abalos e, além de todos os afazeres diários ainda temos que dar conta desses serzinhos tão cheios de energia, vitalidade e necessidade de atenção e amor.

Pois vejo as férias escolares como uma oportunidade imperdível de se reconectar com seus filhos e consigo mesmo. A importância de passar um tempo de qualidade se doando a essa relação, conhecendo melhor essas crianças e reconhecendo melhor os aspectos da nossa própria criança interior. Um grande exercício de aceitação e tolerância que merece capítulos constantes de aprofundamento – algo que as férias podem permitir.

O fato é que a vida exigente dos grandes centros urbanos e a forma como temos estabelecido nossas dinâmicas em sociedade não nos permite muito encontrar esse tempo de qualidade. Acabamos, muitas vezes, terceirizando o tempo com as crianças o que faz com que a conta não feche. E que conta é essa? A que nos permite evoluir como pessoas e conduzir nossas crianças para uma realidade mais saudável e amorosa.

Encaro a maternidade e a paternidade como o maior exercício de elevação de consciência. Relacionar-se com nossos filhos é relacionar-se com o melhor e o pior de nós mesmos. Um eterno desafio de acolher, colocar limites e não tolir a essência e espontaneidade da criança. Nessa matemática o autoconhecimento passa a ser o filtro que nos permite olhar para dentro para encontrar novas formas de educarmos, abrindo mão de velhos modelos e padrões. Sem ele fazemos mais do mesmo, ferindo os pequenos em seu lugar mais íntimo, e contribuindo para manter a roda de desamor em pleno funcionamento.

Mas isso tudo dá um trabalho danado, dobrado, porque requer mudanças internas. Porque requer olhar para dentro e sentir dores antigas, chorar lágrimas represadas, validar passagens difíceis. Porque requer olhar para fora e perceber de verdade o que dói naquele ser, encontrar um jeito de lhe acolher a dor – que é deles, que é nossa – e ainda, prepará-los para saber lidar com as leis da vida. Porque assim, viver não é lá muito fácil e a vida, por si só, nos impõe limites constantes.

Então, como fazer dessa sociedade uma sociedade mais saudável, sã e harmônica para crianças e adultos? Acredito que isso só seja possível a partir do momento que entendermos que os limites da vida exigem respeito, conosco e com os outros. Que somos todos parte de uma mesma engrenagem e que a as ações de um impactam na vida do outro, e que se cresço como indivíduo, ajudo o entorno a seguir na mesma direção. E se me liberto internamente do que machuca, aprisiona e me mantém refém do medo e do ódio, crio espaço para libertar o outro. E se proporciono liberdade para meus filhos, passo a perpetuar o amor.

Que possamos aproveitar o fim das férias de julho!

Flávia de Oliveira Ramos
Amazona de si