Se você acha que esse é um texto que defende mulheres no poder, está enganado. Não que eu não ache que precisamos estabelecer relações mais igualitárias em nossa sociedade, porque isso é realmente essencial. Mas esse artigo não é destinado a enaltecer um gênero específico, mas sim, sensibilizar o nosso olhar para questões ainda mais sutis: o feminino e o masculino que nos habitam – sejamos nós homens ou mulheres.

Falei aqui um pouco sobre isso e devo seguir batendo nessa tecla. O ponto é que nossa sociedade, em algum momento, compreendeu que liderança é sinônimo de poder, autoritarismo, subjugação entre tantas outras distorções. O que vemos nas corporações são modelos arcaicos onde prevalecem o medo, a falta de espontaneidade e a submissão. Nesse cenário, não sobra espaço para ouvir o coração, para colocar em movimento o que realmente importa – nossas verdades mais íntimas, nossa originalidade e criatividade essenciais. Não sobra espaço para nos desenvolvermos.

Sempre recorro à minha trajetória no hipismo para buscar respostas para as questões truncadas da vida. Entre os cavalos, a fêmea alfa, detentora da sabedoria do grupo e de uma firmeza nata, é quem lidera. Todo o bando equaliza sua frequência cardíaca à dela, a quem está na direção. O cavalo precisa se sentir seguro para seguir, seja sua manada, seja quem o está montando. E ele faz isso a partir do coração, literalmente. Sentindo medo ele paralisa, não sai do lugar, ou pior, foge e te derruba no chão.

A fêmea alfa sempre opera pelo bem comum, pensando no bando como um todo, e traz consigo valores naturalmente femininos, e, infelizmente, tão esquecidos por nós. Paciência, amorosidade, cuidado, empatia, acolhimento, entre tantos outros, são inerentes ao feminino e estão dentro de homens e mulheres – só precisam ser despertados, cultivados e colocados em prática.

Em nosso sistema atual, tanto corporativo como social, quem está no comando é o macho alfa, aquele que tem como missão procriar e proteger o bando. Ele tem uma energia vital inigualável. É forte, destemido, criativo, inovador, viril. Mas ele também opera no medo – o medo de que outro macho tome seu lugar, o medo de perder, de ser substituído.

Como criar um ambiente saudável se quem dá o tom está intoxicado? O resultado é o que já conhecemos: empresas com estruturas frágeis, perdidas em tramas políticas; pessoas seriamente doentes, infelizes. Pior: criamos nossos filhos para seguirem esse padrão. Estimulamos a competição, criamos redomas de vidro com nossa super proteção – um jeito que encontramos para não encarar o pânico que temos da vida, de nós mesmos, dos outros. Uma sociedade em crise!

Colocar a fêmea alfa no comando é se abrir para um olhar mais holístico. É contemplar mais a humanidade e menos as estatísticas. Desde quando o dinheiro passou a ser mais importante que o amor? Desde quando trabalhar para sobreviver ou acumular, e não para se desenvolver como ser humano, é o caminho certo?

No bando, o macho alfa é igualmente importante a fêmea, mas sua função é outra. Ele não é o líder. Volto a dizer que essa não é uma disputa de gêneros, mas sim um convite para crescermos como indivíduos e como grupo. Para olharmos fundo dentro de nós e integrarmos essas polaridades complementares que nos habitam, para que tenhamos mais destreza e habilidade para acessar ambas as forças em nós, na hora e no local certo.

Flávia de Oliveira Ramos

Amazona de si