Temos aprendido, há muito tempo, a viver em confinamento. Somos criados dentro de moldes e regras que nos fazem crer que nossa natureza cabe dentro de uma caixa. Romper com esse sistema de crenças e assumir nossa essência mais íntima requer coragem. Viver em liberdade, fazendo as próprias escolhas e permitindo-se expandir mais e mais, mobiliza forças dentro da gente que não são fáceis de lidar. Essa caixa se tornou, infelizmente, a nossa zona de conforto, e muitas vezes preferimos adoecer trancafiados dentro dela do que questionar tal aprisionamento. Por que a liberdade nos assusta tanto? Por que preferimos nos adaptar ao confinamento ao invés de ir além?
Essas são perguntas que me faço constantemente, a cada nova relação pessoal ou desafio profissional. Estamos doentes e nem sequer nos damos conta disso. Passamos boa parte das nossas vidas trancafiados em escritórios trabalhando sem cessar, e muitas vezes o fazemos apenas por dinheiro e sobrevivência. Passamos boa parte das nossas vidas investindo energia em relacionamentos que tolhem nossa espontaneidade e individualidade, e muitas vezes o fazemos por carência ou magoar o outro. Passamos boas partes das nossas vidas nos autoflagelando e acreditando que é assim que deve ser. Mas e o tesão pela vida, onde foi parar?
A natureza do cavalo é nômade, assim como a do ser humano. Porém, uma vez que se sinta seguro no ambiente confinado, recebendo comida e carinho, ele não tenta fugir. É raro que um cavalo no pasto tente pular a cerca. Os que fazem são, geralmente, machos ou fêmeas alpha que possuem espíritos mais livres. Com o ser humano acontece de forma parecida. Vamos adaptando à rotina de tal forma que nos tornamos escravos dela.
Em nossa sociedade passamos a dar um valor demasiado à ideia de estabilidade. Queremos segurança, conforto, queremos ter controle sobre nosso futuro. Acontece que a vida é feita de impermanência, mesmo que isso não nos agrade. Quanto mais presos ficamos à ilusão de que a estabilidade é algo que se possa conquistar, mais frágeis nos tornamos em relação ao ritmo e as surpresas da vida. Assim como um cavalo confinado tem seus músculos atrofiados, seres humanos confinados têm pouco ou nenhum repertório emocional diante das mudanças inerentes do viver.
Quando se propõe novos exercícios a um cavalo, ele costuma resistir. Quanto menos exposto a variações de treino ele está, mais resistente fica. Da mesma forma acontece quando novos desafios são propostos em uma equipe ou em uma estrutura familiar, conjugal ou qualquer outra. Essa resistência é fruto do nosso condicionamento, uma âncora terrível que nos impede de crescer.
O que você gosta de fazer de fato? O que te dá prazer? O que você está deixando para trás quando aceita ficar tantas horas trabalhando? O que é, em seu relacionamento, que te enche de alegria?
Essas perguntas precisam ser feitas e respondidas para que sua vida nunca perca o norte. Precisamos encontrar um equilíbrio interno que nos permita estar inteiros para usufruir do nosso tempo de trabalho e de descanso também. Precisamos saber o que nutre nossa essência e incluir esses itens em nossa dieta, em nossa rotina de vida. Precisamos ter coragem de nos propor as mudanças necessárias para sermos felizes de verdade.
Flávia de Oliveira Ramos
Amazonas de si
0 Comentários