Aquarela de Elena Shved

Não, o Carnaval não é uma festa que me enche de entusiasmo. Daí que pelo segundo ano consecutivo a escola dos meus filhos pediu a eles que perguntassem a seus pais sobre histórias que viveram no Carnaval. E pelo segundo ano consecutivo tive que fazer um mergulho em memórias desconfortáveis, quando aos 10 anos de idade, em um Carnaval de rua no Rio de Janeiro, um homem passou a mão na minha bunda.

Sentimentos de vergonha e medo se mesclaram e escolhi o silêncio que venho carregando desde então. Nunca mais achei divertido o Carnaval. Depois, mais velha, desfilei na Sapucaí e foi bacana – tanto que repeti a dose – mas pela rua nunca mais tive vontade de festejar.

Pensei em escrever sobre abuso, sobre o corpo feminino ser alvo de desrespeito… E me dei conta que também é assim com tantos homens, desde a infância. Pensei então em não escrever nada, ainda não estou assim tão resolvida com o Carnaval.

Mas a Nara, a editora do meu blog e super entusiasta do Carnaval quis me dar essa aquarela de presente. Para ela o Carnaval é uma grande brincadeira e uma oportunidade para a gente se lembrar que a vida foi feita para celebrar e que cabe a nós enchê-la de cores, apesar das dores. É isso que procuro fazer todos os dias. É isso que desejo a todos vocês. Que venha o Carnaval!