Todos nós temos as mesmas 24 horas por dia para dar conta de fazer tudo o que nos propomos. Tenho encarado essa divisão de tempo em três frentes: profissional, pessoal e afazeres domésticos (que ao meu ver é mais uma jornada de trabalho diária). Entender quanto tempo gasta em cada atividade dentro de casa e quais são elas pode fazer a diferença na sua vida e também, na percepção de como definimos nossa vida em sociedade.

Há séculos, seguimos reforçando a crença de que mulheres possuem aptidão para o gerenciamento do lar enquanto homens são desprovidos dela. Não me cabe levantar e discutir os porquês dessa construção, mas definitivamente, ela nem é verdadeira e tão pouco se aplica aos dias atuais (e lamento muito que um dia já tenha sido aplicada a força).

Foquemos então nos dias de hoje e na importância, como eu ía dizendo, de mapearmos os afazeres domésticos, contabilizando quantas horas são necessárias para cada frente e elegendo o responsável por cada área. Foi fazendo esse exercício que percebi que há muita demanda e que ela precisa ser partilhada entre os integrantes da família, se possível, dividida por área de preferência (e não a partir da falsa aptidão imposta silenciosamente às mulheres).

Mais uma vez, não venho aqui propor uma guerra de sexos, mas uma ampliação da consciência sobre o que realmente importa: nosso crescimento como seres humanos.

Quando fiz o meu pela primeira vez consegui mapear, de forma bem resumida, as seguintes funções: área de suprimentos (compra de comidas, medicamentos, roupas e afins); área de facilities (gestão de limpeza, manutenção etc); área de RH (contratação de funcionários, gestão de serviços, escalas de trabalho); área de logística (levar filhos na escola, cursos, festas, ir e vir em supermercado, feira…); área de saúde (agendar médicos, dentista, dar vacina, cuidar de sintomas, deixar de ir no trabalho para ficar com filhos..). E então, me dei conta de que se existem 2 sócios no projeto chamado família, não há explicação cabível para que só 1 assuma as responsabilidades.

Também notei, para minha tristeza, que a área de amor, afeto e carinho ficava muitas vezes desprovida de recursos, já que ao estar resolvendo pendências das outras frentes, além de sair todos os dias de casa, por muitas horas, para manter o meu emprego, faltava energia para apenas curtir, trocar, amar.

Como faz para essa conta fechar? Ou aprendemos a dividir funções de uma vez por todas ou, pelo menos, paguemos um salário para quem assume essas frentes; Ou aprendemos a dividir funções de uma vez por todas ou seguiremos perpetuando esse comportamento doentio para nossos filhos, deixando um legado bem duvidoso.

Não acho que mulheres gostem de verdade de gerir uma casa. Acho que fazem o que precisa ser feito; acho que talvez nem questionem e o cumprem acreditando ser seu papel social; acho que se escondem de si mesmas para não precisarem assumir as rédeas da própria vida; acho que cultivam um fetiche as avessas de que são melhores do que os homens e os desempoderam das responsabilidades domésticas. Muitas não delegam porque acham que o companheiro não sabe fazer. Mas, e daí? Aprendem fazendo, aprendem errando. Foi assim que aprendemos e seguimos aprendendo, porque erramos diariamente. É assim, e somente assim, que se aprende, inclusive, a andar.

Meu convite, volto a dizer, não é para que se apontem dedos e se criem guerras. Não é para procurar saber quem está certo ou errado. É para que usemos um método muito eficiente, que é o timesheet, para que se tenha clareza do cenário, podendo assim reorganizar as coisas, delegar funções, identificar prioridades e entregar o que precisa ser feito. Para que tragamos para a ponta do lápis o que, por tanto tempo, seguiu velado em um plano quase abstrato. Para que quebremos paradigmas e nos tornemos mais íntegros em nossa condição humana.

Flávia de Oliveira Ramos
Amazona de si