Já vi pessoas cheias de talento desperdiçarem suas carreiras ansiando por reconhecimento. Uma promoção que não acontece, um aplauso que não é ouvido, uma medalha que não chega. Isso me faz questionar o que, de fato, significa ser reconhecido; o que é o verdadeiro reconhecimento.
Passamos muito tempo de nossas vidas querendo provar nosso valor, voltados para essa aprovação que vem de fora, da plateia. Uma plateia muitas vezes composta por familiares, pessoas que amamos e que depositam expectativas em cima de nós. Então, seguimos galgando resultados palpáveis que mostrem aos outros que pegamos a direção certa, que estamos fazendo o que tinha que ser feito. Mas será que era esse mesmo o caminho almejado?
Entendo o reconhecimento como algo interno, aquele contentamento por ter percorrido um bom caminho. A certeza de ter se conectado com o seu melhor e com o melhor do outro para alcançar uma meta, um resultado que faça sentido. E isso só é possível quando há confiança, em si e no entorno; quando há propósito, entrega e dedicação; quando você se permite testar seus limites e apostar nos seus sonhos. As promoções, os bônus ou os pódios são apenas os símbolos que sinalizam que a trajetória foi bem percorrida – o problema é que muitas vezes fazemos delas nossas metas.
Quando a meta é alcançar uma posição, deixamos de aproveitar o que mais importa: os desafios do caminho. São eles os grandes professores da vida, que nos estimulam a nos superarmos, nos transformarmos, nos conhecermos. Quando a meta é alcançar uma posição, deixamos nas mãos do outro o reconhecimento do nosso sucesso. Nos “desempoderamos” da nossa força esperando que o outro nos enxergue e diga que fomos aprovados.
Esses, que costumam ser os comportamentos considerados normais em nossa sociedade, já que somos desde pequenos ensinados a competir e nos destacar, vão na contramão do verdadeiro sucesso, que nada mais é do que nossa realização pessoal, que por sua vez, só pode ser mensurada por nós mesmos.
Por isso te pergunto: faz parte do seu propósito assumir uma liderança? Por que isso dá um trabalho danado, exige muita energia, devoção, resiliência e amor. Questione-se sobre suas escolhas profissionais: Elas são feitas a partir de qual critério? Para quem ser feliz, você ou outra pessoa?
Já vi, e com certeza você também, muitas gestões pesadas. Gestores que carregam o peso do mundo nas costas, muitas vezes remando contra a própria maré, fazendo algo que não os satisfaz verdadeiramente. Nas provas de hipismo clássico era a mesma coisa: cavaleiros e amazonas saltando com a família inteira em cima do cavalo. O resultado era, muitas vezes, frustração, e o pesar ao deixar de lado o tesão de estarem ali fazendo o que gostam (ou não) para mostrar aos outros que estavam se saindo bem, que o investimento em suas carreiras valia a pena.
Meus piores tombos na vida aconteceram quando eu não estava inteira, quando não estava conectada comigo, com minha equipe ou cavalo. Meus principais deslizes aconteceram quando eu não acreditava no que estava fazendo ou quando escolhia olhar o outro como um adversário. Por outro lado, meus maiores sucessos vieram de provas e projetos que encarei de corpo e alma, porque havia senso de propósito, porque tudo em mim vibrava feliz.
Por isso, hoje, quis te perguntar até quando você vai esperar ser reconhecido? Até quando vai postergar olhar para dentro e encarar a difícil realidade de que está onde se coloca? Sua realização depende apenas de você e agora pode ser o momento em que você decide se abrir para ir de encontro a ela.
Flávia de Oliveira Ramos
Amazona de si
6 Comentários
Guacho
Hu hum, um show de palavras diretas ao ponto…
Obrigado.
Flávia
Eu que agradeço pelo feedback Guacho. Fico feliz de poder contribuir.
Tarcisio
Flávia, você coloca muito bem duas questões essenciais. Uma é que o reconhecimento interno, a certeza de que você mesmo esteve inteiro em tudo o que fez e deu o seu melho. Isto é muito mais eficaz que o reconhecimento externo. Eleva a alma. Outra é a questão de a quem o líder serve. Se for a s i mesmo, ele se serve das pessoas. Se for aos outros, ele é de fato um líder, não um carreirista.
Flávia
Tarcisio, agradeço pela sua contribuição, assim vamos todos aprendendo juntos.
Ana Paula Feminino Proença
Excelente, palavras oportunas e de reflexão. Um abraço.
Flávia
Fico feliz por promover a reflexão sobre o tema, agradeço pelo feedback Ana Paula.