Quem nunca precisou recuar em uma situação da vida? Às vezes é preciso tomar distância para pegar impulso e poder saltar com maestria, desviar da rota para alcançá-la mais adiante e com fôlego renovado. A questão é que tomar a decisão de dar um passo para trás quando a expectativa era galopar para frente, não é fácil e costuma trazer grandes conflitos internos.

Em uma prova de hipismo clássico, o cavaleiro pode desistir de um percurso para poupar o cavalo. Ele sente que seu par não está bem naquele dia, seja física ou emocionalmente, e sai da prova, cuidando da dupla e evitando criar memórias de tensão ou derrota. Geralmente, quando deixa o orgulho e a arrogância prevalecerem, e decide forçar o bicho a pular, o resultado é negativo e a conta sempre sai alta.

Nos últimos Jogos Olímpicos, a amazona holandesa Adelinde Cornelissen, medalhista de prata em 2012, desistiu de competir com seu cavalo Parzival, de 19 anos. Na véspera da prova, ele foi mordido por algum inseto e apresentava inchaço na cabeça e febre de mais de 40 graus. Apesar dos veterinários cuidarem dele e darem sinal verde para a competição, a atleta sentiu que não podia colocá-lo em uma situação como essa. #TwoHearts foi o que ela escreveu em seu relato no Facebook, mostrando sua nobreza e amor ao desistir de um sonho para poupar seu cavalo e a si mesma.

Entendo que recuar é um exercício de humildade e coragem, que visa, acima de tudo, a própria integridade a curto, médio e longo prazo. Assumir grande desafios, dar saltos na carreira, realizar sonhos, fazer relações prosperarem, são todos projetos de vida que merecem respeito, e para honrá-los eu só conheço um caminho: a autoconexão, essa prática contínua de se investigar e poder ser honesto consigo mesmo e com a vida.

É só entrando em contato com nossa verdade mais íntima que podemos seguir confiantes do caminho a tomar, e nesse sentido, compreendo que saber a hora certa de dar um passo para trás é sinal de sabedoria. Desistir de um projeto quando o time não está pronto mostra maturidade e cuidado com a equipe, preservando-a de uma situação de stress e baixos resultados. Da mesma forma, fechar ou deixar de abrir uma filial, prorrogar prazos e abrir mão de contratos podem ser decisões assertivas, capazes, inclusive, de gerar frutos mais doces no futuro.

A meu ver, todas as ações que nascem do medo e obstinação são pouco saudáveis. Por outro lado, aprender a confiar no fluxo da vida e seguir com ela, fazendo as curvas que forem necessárias, nos faz fortes para superar qualquer obstáculo.

Flávia de Oliveira Ramos

Amazona de si